Vigotski e a Defectologia

Introdução

No texto de hoje, daremos destaque à temática da defectologia, profundamente pesquisada por Vigotski, que, em seus estudos analisava o desenvolvimento e aprendizagem da pessoa com deficiência, direcionando seu olhar para as pessoas surdas-mudas, cegos e pessoas com deficiências mentais, considerando as classificações de sua época.

As ideias produzidas por Vigotski nesse contexto ainda se apresentam como pertinentes, principalmente quando tratamos de temas como o da inclusão e o do respeito à pessoa com deficiência. Nesse sentido, os estudos sobre a defectologia podem servir de base para o desenvolvimento de outras perspectivas de relacionamento entre a sociedade e a pessoa com deficiência.

A produção de Vigotski sobre a defectologia

O seu trabalho foi inovador, pois a sua proposta estava direcionada para o potencial da pessoa e não para as suas limitações. Segundo Vigotski, na medida em que o defeito é considerado como o principal elemento de representação para a pessoa com deficiência, o desenvolvimento dessas pessoas sofre impactos que o despotencializam

Os estudos em defectologia propostos por Vigotski visavam compreender uma maneira de entender a deficiência, desvinculando-a dos limites do aspecto. Entretanto, é importante ressaltar que não houve uma tentativa de negar esses aspectos, porém ele buscava não se restringir a eles. Vigotski acreditava que havia algo maior e com teor cultural que envolvia os processos de aprendizagem da pessoa com deficiência que iria além dos seus defeitos, termo correspondente à época de seus estudos.

A ideia produzida por ele é que a pessoa e seus aspectos físicos estão envolvidos numa relação direta com o meio social em que vivem, portanto, a partir dessas relações são estabelecidas formas específicas de conceber, representar e lidar com as dificuldades encontradas no desenvolvimento humano.

Dessa forma, o que surge como barreira em decorrência da deficiência está diretamente relacionado com o modo como a sociedade se relaciona com a pessoa com deficiência. 

A crítica da defectologia aplicada à escola

A defectologia de Vigotski fazia críticas à forma como as escolas especiais agiam com suas crianças, para ele essas escolas não eram um canal de viabilização do convívio social e assim não contribuíam para o desenvolvimento psicossocial dos alunos.

Os aspectos terapêuticos eram prioritários e as escolas se baseavam nas informações clínicas para conduzir os aspectos pedagógicos da criança. Isso contribuía muito para a estigmatização da criança, o que alimentava um entendimento de que elas eram pessoas limitadas em relação às outras. O foco não estava na superação ou no desenvolvimento das potencialidades, mas sim em fazer somente o que ela poderia.

Apesar de ser uma crítica do início do século XX, essas concepções que restringem o desenvolvimento de pessoas com deficiência utilizando justificativas capacitistas ainda vigoram nas escolas atuais. Nesse sentido, os estudos sobre a defectologia ainda fornecem materiais importantes para contrapor essa visão, ainda vigente.

Embora essas críticas sejam direcionadas ao ambiente escolar, é necessário enfatizar que o que é produzido nas escolas são microrrepresentações daquilo que está entranhado na sociedade. Desse modo, na medida em que questionamos a forma como as escolas lidam com as pessoas com deficiência, estamos também apontando para as inúmeras negligências e violênciadas vivenciadas por essas pessaos socialmente.

Conclusão

Através dos estudos de Vigotski sobre a defectologia, é possível estruturar outros modos de compreender e lidar com a deficiência, não se restrigindo às limitações e aos defeitos, mas investindo nas possibilidades de desenvolvimento do potencial do indivíduo. Esse referencial também nos proporciona ferramentas para intervir em diferentes espaços, inclusive na Clínica Histórico-Cultural, na medida que são viabilizados caminhos para a tomada de consciência acerca da deficiência, permitindo que a pessoa possa transformar os sentidos de limitação e impotência em força para buscar outras alternativas para a compensação e superação dessas limitações.

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