Quais são as bases teóricas da PHC? Saiba mais sobre Espinoza e Marx!

É possível realizar uma clínica histórico-cultural sem suas bases epistemológicas? Com certeza não! Afinal, o conhecimento nunca é construído do nada, sempre há referências e bases sobre as quais ele é desenvolvido. E não podia ser diferente com Vigotski, principalmente porque sua teoria trata exatamente da subjetividade como elemento histórico e cultural.

Entretanto, parece existir um projeto na Psicologia Histórico-Cultural que tenta destituir dela as suas bases — sobretudo o marxismo. Entendemos que não é possível realizar uma prática clínica histórico-cultural sem o constante movimento de estudo, articulação e retorno às suas bases.

Claro que Vigotski construiu uma teoria própria, que não é igual às suas bases epistemológicas, mas sua construção seria impossível sem elas. Por isso, devemos sempre voltar para a base a fim de entender as possibilidades da clínica histórico-cultural.

Quer saber mais? Continue a leitura para conhecer dois dos principais autores que inspiraram a obra de Vigotski!

Marx e o materialismo histórico-dialético

Não deve haver dúvidas de que Marx foi a base a partir da qual Vigotski construiu o seu método. Para entender isso vale a pena, inclusive, compreender o contexto histórico de estudo do autor.

Vigotski nasceu em 1896, na Rússia, e produziu suas pesquisas durante a revolução bolchevique de 1917 e o período conturbado que a sucedeu. Assim, esse cenário e suas relações marcaram profundamente a vida e a profissão do psicólogo. Um de seus grandes objetivos foi construir uma psicologia geral — dialética.

Ele defendeu isso depois de discutir o que chamou de crise da psicologia de sua época. De um lado, via teorias muito idealistas, que rompiam com questões objetivas. De outro, teorias focadas apenas no objetivo, sem fazer integração com a subjetividade.

Vigotski encontrou, então, na dialética uma possibilidade de integrar os elementos e desenvolver uma visão de sujeito a partir da realidade concreta. Logo, a base marxista é um dos pontos centrais de seus estudos e o permitiu superar concepções limitadas e limitantes.

O método materialista histórico dialético de Marx possibilitou a construção de uma nova Psicologia, rompendo dualismos. Mas é preciso saber que Vigotski não propôs uma aplicação direta do marxismo. Seu entendesse foi aprender a totalidade do método de Marx para elaborar uma psicologia histórico-cultural a partir da dialética.

Como isso aparece na clínica?

Assim como foi base para Vigotski, o materialismo histórico-dialético também deve ser uma base para nossos atendimentos clínicos. Afinal, o método da PHC surge dessa teoria. Nesse sentido, é possível ter novas concepções para o atendimento clínico — ao possibilitar que a pessoa em terapia seja vista em seu desenvolvimento sócio cultural.

A compreensão histórico-cultural do processo de subjetivação evidencia que não há como uma clínica que se guia por essa teoria se tornar uma prática individualista, por exemplo. Afinal, o sujeito é compreendido no seu processo de subjetivação a partir da relação social, do tempo histórico e dos processos de produção nos quais se insere.

A base marxista de Vigotski nos deixa o legado da busca pela superação dos dualismos em Psicologia, a partir da utilização do método dialético. A clínica, portanto, não distancia mente e corpo, individual e social, ou objetivo e subjetivo. A busca é pela visão integrada e dialética.

A influência de Espinosa sobre Vigotski?⁣

Além de Marx, outra pessoa teve bastante influência na psicologia histórico-cultural. Como já dizia Leontiev, Baruch de Espinosa era o autor favorito de Vigotski, estando presente em todas as fases da sua produção acadêmica.⁣

Ele aparece nas obras de Vigotski especialmente nos estudos sobre emoções. Inspirado nos escritos espinosanos, ele propôs uma psicologia que não dividia corpo e mente, cognição e afeto, razão e emoção. Assim, partiu de uma visão monista para entender as emoções como funções psicológicas superiores.

O pensamento de Espinosa, incorporado pelo psicólogo bielorrusso, se contrapunha fundamental ao paradigma cartesiano, que tudo dividia. Outra influência clara de Espinosa sobre Vigotksi é a importância que este dá para a temática das emoções e dos afetos na sua obra, integrando-os como uma dimensão inalienável da vida psíquica.

Como isso aparece na clínica?

A base de Vigotski em Espinosa também aparece na clínica quando compreendemos que as funções psicológicas superiores estão integradas. Nesse sentido, as emoções não são menores do que o pensamento, por exemplo. Elas estão no centro da vida psíquica e da subjetividade.

Um conceito em que se pode ver a influência espinosana é o de afeto íntegro. Você sabe o que ele é? Vigotski falou muito sobre a temática das emoções e dos afetos, principalmente nos últimos anos de vida — evidenciando como eles integram nossa vida psíquica.

Integrar é a palavra-chave. As emoções não somente fazem parte do nosso pensamento, comportamento e vida. Elas integram a vida cotidiana! Entretanto, no modelo de relação do capital, nosso psiquismo é cindido. Cognição e afeto se separam um do outro, o que não é saudável.⁣

O afeto íntegro é o estado psíquico em que os aspectos somáticos e os aspectos psíquicos se integram, havendo harmonia entre funções cognitivas, emocionais e outras. A clínica histórico-cultural, com suas atividades mediadoras, tem o potencial de aproximar cognição e afeto novamente, de gerar afetos íntegros.⁣

Conclusão

Depois de ler este texto você já sabe um pouco mais sobre as bases teóricas da psicologia clínica histórico-cultural. Entender de onde Vigotski partiu é indispensável para manter nossa prática fiel aos caminhos traçados pelo autor quando construiu sua psicologia.

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