O desenvolvimento foi um dos temas centrais das pesquisas de Vigotski e outros psicólogos histórico-culturais. Um grande interesse nessa teoria é saber o que nos torna humanos – e nos diferencia de outras espécies animais.
Com isso, a psicologia histórico-cultural tem importantes contribuições a fazer para a compreensão do que acontece na vida das pessoas – desde a infância até a velhice.
Mas, afinal, quais são os aspectos centrais da teoria de Vigotski sobre desenvolvimento? Continue a leitura para descobrir!
O desenvolvimento é cultural
A base do entendimento sobre desenvolvimento psíquico da psicologia histórico-cultural é que os seres humanos, diferentemente de outros animais, não se desenvolvem pautados apenas na biologia.
Apesar de não negar a participação do orgânico no nosso crescimento e evolução, Vigotski chamou atenção para o salto qualitativo que damos quando nos inserimos na cultura. Segundo ele, as leis do desenvolvimento humano passam a ser culturais, em vez de biológicas.
Na prática, isso significa que os elementos biológicos vão ser fatores relevantes na vida da pessoa, mas não são os predominantes. Tudo que se torna mais complexo no desenvolvimento humano (como a linguagem) existe por causa da inserção na cultura – e a mediação na relação com outras pessoas.
Além disso, a cultura permite superar diversas limitações. Por exemplo, pessoas com uma deficiência orgânica que a impeça de falar não deixa de se comunicar, já que culturalmente nós desenvolvemos meios de comunicação alternativa (como a língua brasileira de sinais)
Aprendizagem antecede o desenvolvimento
Se não são as leis biológicas que regem o desenvolvimento humano, significa dizer que esse desenvolvimento não é natural. Ou seja, não é a maturação do organismo ou a chegada de determinada idade que faz surgir novas capacidades em uma pessoa.
A psicologia histórico-cultural nos mostra que as funções psicológicas superiores são desenvolvidas a partir da necessidade de ter tais funções. Considere o exemplo da linguagem: o bebê aprende a falar porque adultos falam com ele antes.
Pela inserção na cultura e na comunicação, é criada a necessidade de aprender a falar para se comunicar. Por isso, Vigotski afirmava que a aprendizagem antecede o desenvolvimento. De modo geral, é a necessidade cultural que impulsiona a biologia, e não o contrário.
Esse é um tema muito interessante de ser discutido atualmente, quando as neurociências estão ganhando tanta atenção. Muitas teorias e autores falam do funcionamento do cérebro como se a biologia determinasse a vida humana. Mas a psicologia histórico-cultural indica que a própria atividade do cérebro se desenvolve a partir da vida concreta.
O desenvolvimento alterna períodos críticos e estáveis
Ao falar sobre o desenvolvimento histórico-cultural, Vigotski propôs uma periodização, que alterna períodos estáveis e críticos. Nos primeiros acontecem mudanças quantitativas que vão se acumulando e culminam em crises que trazem informações qualitativamente diferentes.
As crises apontadas por Vigotski são as seguintes:
- crise pós-natal
- crise do primeiro ano
- crise dos três anos
- crise dos sete anos
- crise dos treze anos
- crise dos dezessete anos
Apesar de citar determinadas idades, é fundamental entendermos que o autor não viu o desenvolvimento como uma sucessão de períodos naturais que acontecem apenas pela chegada da idade.
Essa indicação numérica é apenas uma referência. Em seus estudos, Vigotski evidencia, inclusive, que uma criança pode ter uma idade cronológica diferente do que seria a sua idade de desenvolvimento. Então duas crianças de três anos, por exemplo, não estão necessariamente passando pelas mesmas condições de desenvolvimento.
Vale destacar, ainda, que a definição de crise não é somente negativa. As crises do desenvolvimento são momentos cruciais de destruição e construção dialética, em que novas formações superam as anteriores por incorporação.
O que impulsiona as crises é a situação social de desenvolvimento
Você já viu que o desenvolvimento para Vigotski é cultural, certo? Então o que faria uma pessoa ir avançando em suas crises e se desenvolvendo? Mais do que a chegada da idade ou uma maturação biológica, o que movimenta a vida é a situação social de desenvolvimento.
Em cada período do desenvolvimento, existe uma contradição que coloca necessidades e impulsiona a aprendizagem. Por exemplo, um bebê vive a contradição entre a máxima dependência dos cuidadores e sua baixa capacidade de comunicar o que precisa.
Essa contradição é canalizada na atividade de comunicação emocional direta – o que gera as condições para que, mais tarde, o bebê aprenda a falar e se comunicar.
Após a crise pós-natal, temos um bebê mais ativo, que não quer apenas se relacionar com os seus cuidadores, mas também explorar o mundo à sua volta. A atividade guia então é a manipulação de objetos.
Um bebê pequeno que não consegue andar ou falar está em uma situação social de desenvolvimento diferente de um bebê que já consegue se locomover e se comunicar, certo? Com isso, percebemos que as novas habilidades vão trazendo mudanças na situação social de desenvolvimento.
O desenvolvimento acontece na dialética entre a situação social de desenvolvimento, as novas necessidades que surgem e as novas formações que são aprendidas.
O desenvolvimento na psicologia histórico-cultural não é limitado
Ao ver as crises estudadas por Vigotski você pode se perguntar se o desenvolvimento para a psicologia histórico-cultural acaba aos dezessete anos. De forma alguma! Vigotski afirmou que esse é um processo contínuo e dinâmico, composto por avanços e retrocessos.
Na verdade, estamos nos desenvolvendo até o dia de nossa morte. Logo, o desenvolvimento não acaba em determinada idade. Inclusive, a clínica na psicologia histórico-cultural é vista como um espaço de desenvolvimento, a partir da mediação do psicólogo.
Portanto, crianças, adolescentes, adultos e idosos podem aprender e se desenvolver a partir da interação com outras pessoas. E a psicoterapia é uma relação propícia para isso, já que nosso objetivo é promover desenvolvimento e saúde para as pessoas que acompanhamos.
Neste conteúdo você entendeu os elementos gerais do desenvolvimento para a psicologia histórico-cultural de Vigotski. Esse é um assunto no qual precisamos nos aprofundar, já que é central para a teoria!
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