Introdução
Durante o nosso processo de desenvolvimento, somos apresentados a inúmeros cenários que marcam as nossas vivências. É fácil lembrar dos fins de semana na casa dos avós, da praça que foi palco de muitas brincadeiras na infância, das ruas que marcavam o trajeto até chegar na escola, dos corredores da universidade, das pessoas que fazem parte do nosso ambiente de trabalho etc.
Todos esses cenários têm suas características e dinâmicas próprias, que nos atravessam e determinam o modo como nos relacionamos com esses diferentes contextos. Observar quais são as influências desses cenários em nossa vida é de suma importância para o processo psicoterapêutico, é por esse motivo que a Clínica Histórico-Cultural lança mão da técnia Cenários de Vida para realizar essa investigação. E é sobre ela que trataremos a seguir.
O Cenário de Vida
Esse recurso está fundamentado no conceito de Situação Social de Desenvolvimento em Vigotski, que nos lembra que nossa personalidade, esteja ela saudável ou adoecida, se constrói, sempre, a partir de uma realidade concreta.
Em se tratando da perspectiva clínica, o desenrolar do processo psicoterapêutico nos direciona para a necessidade de compreensão da maneira como os afetos e as emoções se encontram articulados ao meio em que o paciente está inserido.
Nesse sentido, ao aplicarmos o recurso Cenário de Vida, obejtivamos investigar como se configura a relação da pessoa com o meio, identificando as redes de relação e de conexão entre a pessoa e os elementos trazidos por ela e/ou entre os próprios elementos.
Através da aplicação desse recurso é possível identificar o modo como a pessoa está sendo afetada pelos cenários que constituem o seu cotidiano, os contextos que são potencializadores ou despotencializadores do desenvilmento, bem como as estratégias e as dinâmicas elaboradas pela pessoa para se relacionar e afetar, de modo dialético, cada um desses ambientes.
A partir desses apontamentos, percebe-se que esses cenários estão intimamente relacionados com a forma que as pessoas se apresentam no mundo, influenciando seus desejos, interesses, decisões, os sentidos que ela atribui às vivências e transformando, de maneira mais específica, o plano sociogenético, ou seja, a história das relações que a pessoa estabelece durante a vida.
Como se aplica esse recurso?
Nesse recurso da Clínica Histórico-Cultural, pedimos para que o paciente represente em uma folha de papel, os ambientes e relações que são mais importantes para o dia a dia dela. Nessa atividade, a pessoa deve estar representada também.
As distâncias entre cada elemento precisam refletir a realidade, então deve-se orientar que a pessoa coloque perto de si os cenários que ela considera estar mais vinculada, e mais distante os cenários em que existir menor vinculação. Essa representação pode ser feita através de um desenho, fotos ou palavras escritas.
É importante ressaltar que o recurso Cenário de Vida pode ser utilizado para investigar múltiplos contextos, porém, a depender do propósito, ele pode ser direcionado para a análise da dinâmica relacional de um cenário específico, por exemplo, o conjunto de relações e conexões presentes no ambiente familiar.
Conclusão
O Cenário de Vida é um potente aliado da(o) psicóloga(o) durante o processo psicoterapêutico, tendo em vista as inúmeras descobertas que podem surgir a partir da investigação dos contextos e das dinâmicas de relação e afetação presentes em cada um deles. Com este texto tivemos uma breve explanação sobre esse recurso, mas se você ficou interessado em saber um pouco mais sobre a sua utilização na prática, confere os nossos livros Cartas para Vigotski e o Práxis na clínica histórico-cultural: por uma clínicada transformação e do desenvolvimento.