A relação entre a Arte e a Clínica Histórico-Cultural

Parece óbvio pensar na arte como um recurso mediador dentro da psicoterapia, um canal de expressão que viabiliza o contato do paciente com seus conteúdos emocionais. Entretanto, o que temos nesse pensamento é uma simplificação de um processo extremamente complexo e dinâmico dentro da atividade psíquica. E é sobre isso que falaremos a seguir.

O que é a arte para Vigotski?

Em seus escritos sobre a Psicologia da Arte, Vigotski conceitua a arte como uma técnica social do sentimento, um instrumento que incorpora ao ciclo da vida social os aspectos mais íntimos e pessoais do nosso ser. Nesse sentido, quando deslocamos o uso da arte para dentro do contexto psicoterapêutico, estamos também convidando o paciente para caminhar ora na contemplação do objeto artístico ora na reflexão interna provocada por este. 

Qual a importância da vivência estética na psicoterapia?

Para além de qualquer perspectiva utilitarista, a arte, dentro do contexto psicoterapêutico, desempenha um papel significativo na ampliação da consciência do paciente e esta ação tem completa relação com conceito de vivência estética.

Segundo Vigotski, o processo de vivência estética se inicia a partir do momento que a pessoa é impactada pela expressão artística, o que configura a excitação produzida pela percepção dos estímulos estéticos dispostos de modo singular na obra. Após isso, ocorrerão outros dois processos que também constituirão a vivência estética, os quais são: a elaboração e a catarse.

Esses dois processos direcionam-se à complexa atividade psíquica mencionada anteriormente, onde ao signo da obra de arte, de forma mediata e imediata, serão vinculadas e aglutinadas vivências dispersas, sem direção, possibilitando que a pessoa, neste momento, assuma uma posição contemplativa em relação à experiência de sua presença no mundo. Nessa articulação entre o conteúdo artístico e as vivências subjetivas, se deflagra um movimento dialético que implicará em uma luta interna que terá como destino resoluto a catarse.

É importante destacar que em qualquer etapa da vivência estética podem ocorrer mudanças na forma como a pessoa percebe a si e ao mundo.

Por que incorporar a arte ao processo psicoterapêutico?

Compreender a vasta competência da arte como recurso ampliador de consciência, bem como incorporá-la com intencionalidade e propósito ao fazer psicoterapêutico, pode despontar como uma estratégia essencial para o desenvolvimento do paciente em psicoterapia.

Dentro da perspectiva clínica histórico-cultural encontramos espaço para o exercício da arte não apenas como técnica, mas como fonte de questionamentos e autodescobertas. Isso traduz com perfeição a dialogicidade e a dialética inscritas no fazer psicoterapêutico histórico-cultural. 

Conclusão

Por fim, entendemos que de fato a arte é um recurso mediador dentro do processo psicoterapêutico, entretanto, como psicoterapêutas precisamos (re)conhecer as possíveis atividades psíquicas que esta pode desencadear nos pacientes. Do contrário, poderemos incorrer no risco de tecnicisar essa prática, esvaziando-a de sentido e reduzindo-a a um propósito utilitarista.

Quer saber mais sobre esse e outros assuntos? Confere o nosso site e segue o nosso Instagram!