A Psicologia Histórico-Cultural e as minorias socias

Introdução

Quando pensamos no desenvolvimento humano, temos que necessariamente considerar os macro e os micro eventos que dão forma a vivências das pessoas. Esse processo de análise deve levar em conta a relação de cada indivíduo com a cultura que o cerca, pois dentro da cultura estão os instrumentos e os signos pelos quais o desenvolvimento acontecerá.

A apropriação dos instrumentos e signos contidos em cada cultura se dá através de um movimento dialético, onde o indivíduo histórico-cultural não só assimila o meio com que se conecta, mas também o transforma, construindo cadeias de significados em sua experiência social e revestindo seu contexto de sentidos pessoais. 

Entretanto, deve-se ressaltar que o processo de desenvolvimento, mais precisamente o da constituição da personalidade, não acontece de forma universal, pois cada indivíduo terá uma relação singular com a cultura. Quando tratamos de minorias sociais, por exemplo, consideramos que existem elementos singulares que perpassam a experiência e a constituição singular das pessoas que fazem parte desses grupos, o que contribui para a configuração de uma imagem negativa e depreciada de suas identidades.

Minorias sociais, como são mediadas?

No contexto social, estamos às voltas com ideias hegemônicas, muitas vezes interpretadas como imutáveis e por esse motivo naturalizadas. Essas ideias são estabelecidas como diretrizes para o bom andamento da sociedade, em outras palavras, configuram-se como a norma a ser seguida. 

Encontramos essas compreensões atreladas, por exemplo, ao relacionamento heteronormativo, à separação dos papéis de gênero em uma classificação binária, à eleição da religião cristã como principal, à preferência por pessoas brancas em detrimento de pessoas negras, entre outras. Desse modo, tudo que foge a esse regimento padrão é considerado desviante, equivocado ou algo que precisa ser consertado.

Nesse sentido, quando pensamos na qualidade dos mediadores que majoritariamente atravessam a constituição subjetiva das pessoas que compõem os diferentes grupos das minorias sociais, compreendemos que esses mediadores serão marcados por uma perspectiva que muitas vezes deslegitima a existência dessas pessoas. São mediadores que incidem de forma particular sobre a dinâmica psicológica, geralmente contribuindo para o empobrecimento do autoconceito e da vida afetivo-emocional de tais pessoas. 

Impactos para a constituição da personalidade

A internalização desses mediadores pode causar prejuízos em diversas dimensões da vida das pessoas, principalmente quando pensamos no campo das relações, tendo em vista que na perspectiva histórico-cultural, a sociogênese, ou seja, a história das nossas relações sociais, constitui o modo como nos tornamos indivíduos.

Nesse cenário, minorias sociais estão muito mais suscetíveis à vulnerabilidade: violência, desamparo e negligência, o que pode ocasionar o desenvolvimento de ideias cristalizadas que se fixam na constituição do psiquismo, formando um autoconceito despotencializado, por exemplo. Daí surgem ideias atreladas ao não merecimento de espaços, de relações, de oportunidades etc.

É importante frisar que a internalização das opressões sociais não necessariamente gera um cenário patopsicológico, já que as vivências personalizam esse processo. Entretanto, partindo do fato de que vivemos em uma sociedade repleta dessas opressões, torna-se impossível conceber um desenvolvimento que não seja atravessado e consequentemente não internalize essas opressões.  

Conclusões

Os estudos sobre as minorias sociais encontram terreno fértil dentro da Psicologia Histórico-Cultural, pois esta se apresenta como uma teoria necessária e potente para pensar a maneira como os aspectos sócio-históricos e os psicológicos se articulam. Através de conceitos como desenvolvimento, mediação e internalização, conseguimos identificar como as opressões presentes nos cenários de vida das minorias sociais conjugam elementos cognitivos e emocionais que atravessam a constituição da personalidade dessas pessoas.

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Sugestões de leitura:

  • Artigo: A homofobia como um processo psicossocial: contribuições da Psicologia Histórico-Cultutal – Neto Oliveira e Ana Ignez.
  • Dissertação: Configurações subjetivas de práticas policiais e estratégias de sobrevivência de jovens negros em uma cidade da Bahia – Tiago Ferreira da Silva.