As emoções na Psicologia Histórico-Cultural

Introdução

O tema das emoções tem ocupado muitos espaços nos atuais debates da psicologia e na compreensão popular através de filmes e séries que reforçam essas discussões. A partir dessa maior visibilidade surgem diversas correntes teóricas que tentam se apropriar do modo como as emoções são conceituadas. 

Entretanto, é importante ressaltar que embora os atuais debates sobre essa temática estejam movimentando e ampliando a forma como compreendemos as emoções, historicamente existiram inúmeros duelos filosóficos e científicos com o intuito de estabelecer o que realmente eram as emoções. 

Com isso, trataremos a seguir de analisar qual a perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural sobre esse assunto.

Vigotski e as emoções

É possível dizer que, apesar de não sistematizada, a temática das emoções esteve presente durante toda a obra vigotskiana. Quando analisamos importantes livros como Psicologia da Arte; Imaginação e criação na infância e A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, identificamos o caráter transversal e a necessidade que Vigotski sentia de elaborar com maior densidade sobre a dinâmica das emoções no desenvolvimento humano. 

Perto do fim de sua vida, Vigotski inicia o processo de desenvolvimento de seu livro Teoria das emoções e, dado seu o falecimento precoce, essa produção ficou inacabada, mas ainda assim foi publicada posteriormente através da contribuição de seus colaboradores.   

A revolução das emoções

A Psicologia Histórico-Cultural é revolucionária pelo fato trazer aos debates do campo psicológico uma compreensão dinâmica de desenvolvimento, ressaltando que os seres humanos estão sendo constantemente atravessados pela realidade concreta. Essa compreensão também acompanha a temática das emoções.

Em sua época, Vigotski se viu às voltas com teorias que apresentavam um entendimento limitado sobre as emoções, como a teoria de James-Lange, que reduzia as emoções ao biológico; bem como as teorias evolucionistas, que entendiam que as emoções eram substâncias inatas, que se formavam naturalmente desde a vida intrauterina. 

Diante desse contexto, Vigotski critica essas teorias e estabelece que as emoções são funções psicológicas superiores que têm raízes biológicas, mas que a partir das relações com a cultura, vão se modificando e se tornando mais complexas. Nesse sentido, as emoções ganham um destaque, não se limitando mais a uma reação fisiológica ou a um constructo inato, mas são funções psicológicas que estão diretamente associadas ao modo como nos relacionamos com o mundo e com os outros. 

Outro aspecto importante que Vigotski acrescenta à temática das emoções é o papel que esta exerce de organizar internamente o nosso comportamento. Para ele, as emoções nos colocam em tensão, em excitação, nos estimulam ou freiam todas as reações. E isso tem grande impacto na orientação do nosso pensamento e ação.

Conclusão

O que vimos até aqui é apenas um pequeno fragmento da sólida teoria das emoções desenvolvida por Vigotski e aprofundada por seus colaboradores. No entanto, ao entrarmos em contato apenas com essa breve apresentação já conseguimos compreender o caráter transformador e revolucionário que Vigotski traz ao campo das emoções, nos direcionando a analisar as emoções a partir da historicidade das relações e dos atravessamentos culturais.

Quer acompanhar de perto novos conteúdos sobre a Clínica Histórico-Cultural? Siga nosso instagram! @np_historicocultural