Contribuições da Neuropsicologia de Luria para a Clínica Histórico-Cultural

Introdução

Atualmente, nos consultórios psicológicos, se acentuam as queixas relacionadas a dificuldade de aprendizagem, déficit de atenção, transtornos de comportamento, ansiedade generalizada, dentre outras questões que exigem um olhar integral para o humano envolvendo cognição, afeto e movimento; biologia e sociedade etc.

Para entender melhor todos esses aspectos, lançamos mão dos estudos em Neuropsicologia desenvolvidos por Alexander Luria, discípulo de Vigotski e um dos seus principais continuadores, além de pai da Neuropsicologia!

Entretanto, antes disso, precisamos compreender como os estudos de Luria impactaram o desenvolvimento da Neuropsicologia. 

Luria e a Neuropsicologia

A compreensão da importância do cérebro ao longo da história é percebida desde muito tempo pelas mais diferentes civilizações. Os egípcios, os gregos, os romanos, todos eles se preocuparam em estudar acerca do cérebro e seu funcionamento.

Toda essa trajetória histórica de pesquisa trouxe diversas contribuições e avanços para os estudos do cérebro. Mas foi graças a Psicologia Histórico-Cultural e aos estudos específicos de Luria que a neuropsicologia teve suas importantes bases formuladas!

Luria desenvolveu uma abordagem do cérebro que rompeu com as ideias clássicas de sua época, como as perspectivas holística e localizacionista, sobretudo esta última. A partir disso, estabeleceu que as funções psicológicas superiores como pensamento, linguagem, volição, criatividade e imaginação possuem uma localização dinâmica, sendo o cérebro composto por sistemas funcionais complexos que são formados no decorrer do desenvolvimento cultural.

Nesse sentido, a partir das lentes da Psicologia Histórico-Cultural, a neuropsicologia pode ser defendida como ciência que estuda a relação entre o cérebro e os processos psicológicos ou as bases cerebrais desses processos durante o desenvolvimento humano.

Como a Neuropsicologia contribui para a prática clínica?

As ideias de Luria são base fundamental para a compreensão das funções cerebrais e das disfunções corticais, principalmente. Sua teoria é basilar para os estudos de aprendizagem e desenvolvimento, bem como é muito importante para os trabalhos desenvolvidos na área de reabilitação.

Quando nos referimos à atuação clínica, especificamente, destacamos que, ao longo de todo o processo psicoterapêutico, observamos como as funções psicológicas superiores estão desenhadas, quais delas, por exemplo, estão íntegras ou não. 

É importante salientar que a observação da dinâmica das funções psicológicas superiores deve ser feita contextualizadamente, compreendendo os diversos cenários e modos de vida específicos nos quais o paciente está inserido. Em nenhum momento, podemos colocar as dificuldades manifestadas por elas como problemas estritamente individuais. 

A Neuropsicologia Luriana ajuda, então, o psicoterapeuta histórico-cultural a ter bases para a atuação e a intervenção com as funções psicológicas superiores, objetivando torná-las mais íntegras. Afinal, o nosso psiquismo é a interrelação das funções mentais, assim, quanto mais elas estiverem saudáveis, mais conseguiremos agir na realidade de forma saudável.

Conclusão

Diante do que vimos até aqui, foi possível perceber que Luria, através das bases da Psicologia Histórico-Cultural, rompeu com a tradição biomédica, destacando que o natural não pode ser dissociado do meio cultural. Portanto, Luria mudou os rumos do estudo do cérebro, apontando que o cérebro tem um fundamento concreto, e esse fundamento é o mundo histórico e as relações que desempenhamos nele.

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Sugestões de leitura:

Capítulo de livro: “Contribuições da neuropsicologia de Luria para a clínica histórico-cultural (Livro Cartas para Vigotski)”, Ana Ignez e Janaína Melo.

Livro: “Fundamentos de Neuropsicologia”, Alexander Luria.