Introdução
São diversos os motivos pelos quais as pessoas buscam a psicoterapia, no entanto, existe algo de comum a todos esses motivos, a busca por caminhos que possam apontar para a direção do objetivo almejado, qualquer que seja ele.
Desenvolver esses caminhos evoca necessariamente a nossa capacidade de criação, de ampliar e transformar o modo como compreendemos a nós mesmos e ao mundo que nos rodeia.
Por esse motivo, a seguir, trataremos de explicitar melhor a relação entre os Processos Criativos e a Prática clínica Histórico-Cultural.
Por que criamos?
Existe uma relação profunda entre criatividade e imaginação, e nós só criamos porque imaginamos. À medida que nos relacionamos com as culturas e nos deparamos com a complexidade do meio, enriquecemos nosso repertório simbólico e ampliamos a nossa capacidade de imaginar realidades possíveis.
Nesse sentido, a imaginação adquire uma função de importância na conduta e no desenvolvimento humano, constituindo-se como um meio de ampliar a vivência. Entretanto, somente a imaginação não daria conta de suprir as necessidades que são objetivas. Quem tem fome precisa comer, não só imaginar a comida.
Essa reflexões nos conduzem a pensarmos sobre a necessidade de criar. Vigostki, em sua obra Imaginação e criação na infância, salienta que a base da criação sempre está formada pela inadequação, da qual surgem as necessidades, as aspirações e os desejos.
Portanto, é a partir do incômodo e do estabelecimento de um problema a ser resolvido que articulamos imaginação e criação para produzirmos novos caminhos que nos orientem ao objeto almejado. É precisamente através desta condição que a Clínica Histórico-Cultural aparece como espaço propício para a reciação.
O processo clínico e suas metamorfoses
Em se tratando do processo psicoterapêutico, o que mobiliza as pessoas a buscarem por esse serviço é o sofrimento. Estar dentro de um contexto difícil, turbulento ou delicado, pode prejudicar a capacidade das pessoas de vislumbrarem outros cenários possíveis, alternativas para o enfrentamento daquela dor.
Perceber-se sem recursos, sem estratégias, sem saída, pode encaminhar essa pessoa a um quadro de paralisação ante a sua vida. Diante disso, o cenário terapêutico se estabelece como um lugar próprio para que a imaginação flua, e a partir disso, os elementos da realidade sofram uma profunda transformação, convertendo-se em produtos da imaginação, que podem se fossilizar em objetos da realidade.
Assim, ao experienciar uma relação em que a capacidade imaginativa é validada e impulsionada, a pessoa tem condições de imaginar mudanças no seu cenário de vida propícia para uma vida saudável. Isso já causa uma reestruturação psíquica na pessoa, tornando-a mais capaz de agir em prol do que imaginou ser o melhor.
Mesmo que não consiga modificar suas condições objetivas de vida, a pessoa pode transformar sua realidade ao atribuir, num processo criativo, novos sentidos, e a partir disso, novas ações sobre ela.
Conclusão
Por fim, compreendemos que a Clínica Histórico-Cultural não modifica diretamente a sociedade, mas pode realocar a perspectiva da pessoa em relação ao mundo, ajudando a desenvolver recursos para lidar de forma consciente com as demandas que a envolvem. Tudo isso só é possível através dessa articulação entre imaginação e criação, o que reorganiza a atividade psíquica e impulsiona as pessoas a desenvolverem novos caminhos para trilharem.
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Sugestões de leitura para aprofundamento:
- Livro: Imaginação e criação na infância, Vigotski.
- Capítulo de livro: A Clínica Histórico-Cultural como espaço de (re)criação de si e da realidade (Cartas para Vigotski), Artur Bruno.