Como a Psicologia Histórico-Cultural entende a psicopatologia?

As psicopatologias, tais como depressão, ansiedade e esquizofrenia, são sempre temas bastante abordados nas ciências da grande área da saúde, como a Psicologia e a Medicina.

Mas você sabia que a visão tradicionalmente propagada a respeito dessas psicopatologias não é uma unanimidade? A Psicologia Histórico-Cultural, por exemplo, enxerga esses fenômenos de uma maneira muito específica.

Segue lendo que você vai entender o que queremos dizer!

1. A Patopsicologia Experimental

A psicóloga soviética, mais especificamente lituana, Bluma Zeigarnik, discípula de Vigotski, desenvolveu uma teoria herdeira da Psicologia Histórico-Cultural para compreender os estados de saúde e doença das pessoas.

Em um primeiro momento, ela foi impedida de estudar as psicopatologias pelo regime soviético, pois entendia-se que tal estudo era de responsabilidade exclusiva da psiquiatria.

Porém, Zeigarnik quebrou barreiras e, a partir da década de 1960, começou a desenvolver essa teoria que olhava para a psicopatologia a partir de uma outra ótica.

Os termos “psico” e “patologia” são invertidos na denominação de sua teoria, pois a sua proposta é se opor à centralidade do aspecto patológico das visões hegemônicas da época e, ao invés disso, focar no aspecto psicológico. 

2. Como a Patopsicologia se diferencia da visão hegemônica?

Existem algumas diferenças fundamentais entre a teoria de Zeigarnik e a psicopatologia propagada nos grandes manuais médicos.

Uma delas diz respeito ao caráter muito mais qualitativo na análise das doenças e transtornos mentais que a Patopsicologia faz, em contraste com o caráter, muitas vezes, quantitativo propagado pelas teorias tradicionais, onde a quantidade e intensidade dos sintomas é suficiente para se entender esses estados adoecidos.

Outra diferença fundamental reside no fato de que a Patopsicologia trata as doenças mentais como transtornos sistêmicos disfuncionais ligados às funções psicológicas. Assim, entende tais doenças, por exemplo, como transtornos de atenção ou de memória, e sempre relacionadas ao contexto social e cultural no qual a pessoa se encontra. As abordagens tradicionais, por sua vez, tendem a isolar o transtorno em um quadro nosológico apartado das circunstâncias materiais.

Essas são apenas algumas das particularidades, mas deu para entender que é uma visão diferente, não é?

3. Como a Patopsicologia vê os transtornos mentais?

A teoria de Zeigarnik está profundamente enraizada na Psicologia Histórico-Cultural. Por isso, ela segue os conceitos, e, principalmente, o método de Vigotski, que pretende voltar às origens de um fenômeno para explicá-lo.

Dessa forma, as patologias são alterações em nossa atividade, com origens biológicas e socioculturais, que modificam nossas ações conscientes no mundo.

As patologias são vistas como tendo forte ligação com a materialidade da nossa existência e isso quer dizer que cada pessoa terá uma síntese única em seu desenvolvimento que poderá estar, porventura, desintegrada e, por conseguinte, adoecida.

Conclusão

Como você viu, a Patopsicologia Experimental é uma teoria criada por Bluma Zeigarnik e é herdeira da Psicologia Histórico-Cultural. Logo, ela preserva seus princípios teóricos e metodológicos.

Assim, a patologia é vista de maneira contextual e individual, respeitando-se as origens da atividade da pessoa e tentando-se entender como ela veio a se desorganizar.

Gostou deste conteúdo? Se você quer aprender mais sobre temas relacionados à Psicologia Histórico-Cultural, não deixe de conhecer nosso novo livro! O “Práxis na clínica histórico-cultural: por uma clínica da transformação e do desenvolvimento”. Caso se interesse, segue o link para a compra: https://nphc.com.br/livro-nphc/

REFERÊNCIAS

CLARINDO, J. M. Clínica histórico-cultural: caracterizando um método de atuação em psicoterapia. 2020a. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2020a.

SILVA, M. A. S.; TULESKI, S. C. Patopsicologia experimental: abordagem histórico-cultural para o entendimento do sofrimento mental. Estudos de Psicologia, Natal, v. 20, n. 4, p. 207-216, out./dez. 2015.

SILVA, M. A. S. Compreensão do adoecimento psíquico: de L. S. Vigotski à patopsicologia experimental de Bluma V. Zeigarnik. 2014. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2014.